Pensando no mundo dos espíritos: uma perspectiva bíblica

 

Por James R Henderson

 

O assunto do mundo do espirito é amplamente discutido tanto nos círculos seculares como nos religiosos. Para os cristãos é importante lembrar a perspectiva bíblica do mundo do espírito, e que algumas perspectivas populares existentes actualmente estão frequentemente em desacordo com a perspectiva bíblica.

 

Pontos de importância na perspectiva bíblica:

 

 

Em relação a algumas interpretações modernas do mundo do espírito devemos observar que notoriamente ausentes da narrativa bíblica estão: apoio para ideias supersticiosas; explicações demoníacas frequentes dadas por crentes para os problemas e pecados do dia a dia; muitas referências a maldições pronunciadas por Satanás, maus espíritos ou agentes humanos demoníacos; maldições ou feitiços demoníacos que são passados de geração em geração; demónios que provocam um pecado individual contra a livre vontade da pessoa e que por conseguinte precisam de ser limitados e expulsos (a resposta bíblica ao pecado não é expulsar um demónio ou espírito opressivo mas sim o indivíduo reconhecer a sua responsabilidade pessoal ao pecado e para arrepender através do sacrifício de Cristo); procedimentos rituais para a expulsão de demónios; o uso do nome de Jesus ou referência ao sangue de Jesus como uma frase que tem inerente poder próprio; um ministério específico devotado à procura e expulsão de demónios.

 

Permitam-me fazer alguns comentários adicionais sobre o assunto das maldições. Como mencionado acima, o registo bíblico não valida adequadamente a ideia das maldições serem pronunciadas por Satanás e/ou seus seguidores. No Antigo Testamento as maldições são frequentemente pronunciamentos percebidos de Deus para indicar julgamento ou consequências por comportamentos errados – e.g. a expulsão do Éden, Deuteronómio 28, etc. Por vezes as maldições são feitas pelos homens onde o amaldiçoar é usado com o propósito de desejar o mal ou falar mal contra alguém – e.g. Simei amaldiçoa David, abençoar em oposição a amaldiçoar o teu inimigo, etc. O conceito principal da maldição no Novo Testamento é o julgamento divino da (auto-induzida) separação de Deus como resultado do pecado pessoal, da cuja maldição estamos redimidos através do sacrifício de Cristo (Gálatas 3:10-13, Apocalipse 22:3). Nos poucos exemplos na Bíblia de amaldiçoar com o propósito de chamar a espíritos para possuir ou influenciar alguém ou algo, aqueles que fazem isso operam em idolatria e em paganismo mundano do reino dos espíritos (e.g. Golias em 1 Samuel 17:43, Balaão em Números 22).

 

            Um livro que dá perspectivas que auxiliam neste assunto é “Encontros de Poder: Exigir Guerra Espiritual” por David Powlison, publicado em 1995 nos EUA por Livros Hourglass (Livros Baker).

 

 Foram feitas uma quantidade de perguntas acerca do Ministério da Libertação. Ministério da Libertação refere-se tipicamente a cerimónias regulares e práticas liturgias, por vezes dentro do contexto das cerimónias religiosas semanais, durante a qual os ministros e/ou os membros seculares procuram expulsar demónios ou remover influência demoníaca de toda a congregação ou de crentes individuais e/ou não crentes. Por vezes também envolve procedimentos para a libertação de maldições recentes ou de gerações. Em adição, pode haver actividade à volta do que é conhecido por Guerra Espiritual Estratégica, a qual envolve tentar, geralmente dum ponto de vista de antecipar o Reino antes do iminente regresso de Cristo, identificar e atacar fortalezas demoníacas nas comunidades, cidades e nações.

 

É importante compreender que a posição da Igreja de Deus Mundial não mudou nestes assuntos: na nossa comunhão não praticamos Ministério da Libertação como foi descrito no parágrafo precedente.

 

É também importante notar que qualquer ensinamento central necessita de uma fundação teológica segura. Uma prática, sem uma bem informada teoria teológica, bem sustentada, pode tornar-se o fim de si mesma, e é geralmente muito difícil de corrigir. Nós dentre todos os grupos devemos compreender isto. As nossas práticas passadas, as quais eram mal informadas teologicamente, estavam bem estabelecidas dentro da nossa comunhão e difíceis de mudar. Podia-se dizer que as nossas anteriores teorias teológicas mal construídas funcionavam – as pessoas pareciam felizes, a igreja durante tempos parecia ter sucesso, etc. – mas só porque algo funciona não significa que é correcto ou aceitável perante Deus. Eu sei que muitos dizem, “o Ministério da Libertação funciona”, querendo dizer que resultados claros são por vezes evidentes. O conceito de que “funciona” é altamente subjectivo e de anedota. Precisamos de considerar a teologia por detrás de uma prática ou ensinamento, e determinar se aquela teologia é fundada numa adequada reflexão e pesquisa bíblica. Nós não defendemos encarar somente experiências presumidas como um meio de desenvolver doutrina e prática. Por outras palavras, somente porque fomos apanhados a sentir que uma prática nos faz espirituais, ou porque nos faz sentir bem acerca de nós mesmos, não faz da dita prática em, si mesma, um ensinamento aceitável. Todos os ensinamentos e práticas devem vir debaixo de um exame detalhado de um estudo cuidadoso da Palavra de Deus, por outras palavras, a disciplina da cuidadosa teologia centrada em Cristo. 

 

Algumas perguntas específicas foram feitas por uma quantidade de pessoas:

 

1.      Qual é a posição da Igreja de Deus Mundial sobre orar para Satanás ser restringido no início das cerimónias da igreja?

 

A Igreja de Deus Mundial não procura ser excessivamente precisa na questão da oração da congregação. Obviamente esperamos que tudo que seja dito e feito que seja para glória de Deus e para a edificação dos crentes. De uma perspectiva pastoral precisamos perguntar a nós próprios se pensamos ser prudente dar atenção a Satanás no início das cerimónias da igreja. A resposta é não, não é apropriado e não é prudente. Eu estive em algumas cerimónias da igreja onde o primeiro evento organizado é uma oração para expulsar/restringir Satanás, por vezes isto é na forma de um comando. Então a concentração imediata não é em Deus e na sua influência nas nossas vidas mas em Satanás e na sua possível influência passada, presente e futura. Talvez Satanás esteja contente, se é que ele está alguma vez contente (o que eu duvido), com a atenção prioritária que recebe!

 

Também, devemos ter em mente que, teologicamente, ensinamos que temos já a vitória em Cristo, e qualquer implicação que de alguma forma aconteça no início das cerimónias, uma luta com Satanás está fora de questão. 

 

2.      Existem linhas de orientação para como identificar possessão pelo demónio?

 

Este é um grande assunto, e os teólogos e académicos escreveram muito acerca disto. Por favor lembrem que isto não é um assunto prioritário no ministério – não fomos chamados para o ministério com o objectivo de identificar aqueles que estão possuídos pelo diabo. O Ministério explica-se em ajudar as pessoas a identificar o seu Salvador, Jesus Cristo, e servir aqueles que pertencem a Ele. Também, lembrem que, historicamente, muita superstição girou à volta deste assunto, e os sintomas de algumas doenças e condições psicológicas reconhecidas agora eram vistas erroneamente como indicações de possessão demoníaca. Como ministros e líderes não devemos encorajar a superstição mas antes dispersá-la. Lembrem que uma parte essencial do ministério é quando consideramos remeter pessoas com sérias desordens de personalidade para profissionais qualificados nos campos da medicina, aconselhamento, psiquiatria e psicologia.

 

Tendo notado estes pontos, os pastores e ministros deverão ser lentos a concluir que alguém está possuído por um demónio. Deixem qualquer tipo de conclusões estar, onde possível, com a multidão de conselhos de outros ministros, e com o envolvimento de um superior eclesiástico, e com sensibilidade para quaisquer implicações legais ou de reputação pelas acções tomadas. 

 

3.      É o exorcismo uma dádiva do Espírito Santo, e, se assim for, será provável que os membros seculares da igreja sejam favorecidos com este dom e por conseguinte possam guiar o ministro nestes assuntos?

 

O mundo Cristão está dividido em relação ao assunto de dons miraculosos, incluindo a expulsão de demónios. Um livro interessante que cobre muitos dos argumentos envolvidos é “São todos os dons miraculosos para hoje?” por Wayne A. Gruden, publicado nos EUA por Zondervan (1996). Não foi provado conclusivamente que a referência a “distinguir os espíritos” (1 Coríntios 12:10) está necessariamente a aludir à expulsão de demónios. Uma opinião mais conservadora é que está a referir-se à dádiva no ministério de ser capaz de discernir atitudes e motivos nos indivíduos e nas congregações, e que a dádiva possa possivelmente incluir mas não ser limitada somente à identificação de actividades demoníacas.

 

Da perspectiva da superioridade bíblica a expulsão de demónios era executada por pessoas específicas que estavam autorizadas a fazer isso e/ou pelo ministério representante, em particular pelos apóstolos. Não existe registo nas escrituras sagradas de demónios serem expulsos numa base ad hoc por membros seculares da congregação.

 

4.       Existe alguma cerimónia específica recomendada pela igreja para a expulsão de demónios?

 

A igreja não tem nenhuma cerimónia pública (isto é, para ser executada na presença da congregação) para a expulsão de demónios. Tal como no caso da unção com óleo (Tiago 5:14) geralmente o ambiente é mais privado, e envolve tipicamente os anciões da igreja. Existem regras gerais para o ministério – não estar sozinho nesta situação, ser cuidadoso em respeitar leis envolvendo menores, evitar a aparência do mal, etc. Tendo considerado cuidadosamente a situação e chegado lentamente à conclusão da suspeitada possessão ou influência, permitam estar pelo menos dois ministros presentes. Orar e jejuar devem ser considerados – para se aproximar o mais possível de Deus antecipadamente. Sejam conscientes que os demónios respondem à autoridade de Cristo, não à nossa autoridade – os ministros não devem assumir que eles tem autoridade de e por eles próprios, e não deverão procurar endereçar aos demónios e juntar a eles em conversação – Jesus é aquele que se endereçou a eles por nós. Em adição, lembrem que isto não é sobre magia – é sobre fé. Nem é sobre gritaria e efeito dramático – é sobre compaixão pelo indivíduo afligido, como ilustrado pelo ministério do nosso Senhor. 

 

Durante a oração é apropriado orar ferventemente para que o Senhor repreenda Satanás e seus demónios (Judas 9) e para que a pessoa seja libertada especificamente da aflição mental e/ou física envolvida. Em seguida, os ministros devem ser encorajadores. Eles podem orar para que, através de Jesus Cristo que fortalece o crente (Filipenses 4:13), a pessoa envolvida seja conduzida a submeter-se a Deus de maneira que o diabo fuja dele ou dela (Tiago 4:7); para que a paz de Deus, a qual ultrapassa qualquer entendimento, guarde o coração e mente dele ou dela através de Jesus Cristo; para que ele ou ela não meditem em coisas negativas mas sim nos valores positivos do pensamento Cristão (Filipenses 4:7-8). 

 

Os ministros devem explicar ao indivíduo envolvido a importância das disciplinas espirituais; prevenir contra hábitos destrutivos; rodear a ele ou ela com a comunidade de crentes; e acompanhar com encorajamento e aconselhamento. 

 

As observações precedentes em resposta à pergunta 4 são dadas como linhas gerais de orientação e não significam um padrão legalista ou fórmula que deva ser seguida em todas as situações.

 

 

 

 

 

 

 

Tradução: Conceição Galego